Do conto "As Fadas", conto registado por Charles Perrault, fica aqui uma imagem da exposição que pode ser visitada até dia 8 de Abril na Galeria Municipal de Corroios.
Marioneta: Olga Neves
Photo: Luís Miguel Martíns - CÂmara Municipal do Seixal
As Fadas
Vivia num bosque uma viúva e as suas duas filhas. A filha
mais velha era muito parecida com a sua mãe, tanto no feitio como na falta de
beleza e educação. Como cada um gosta dos seus semelhantes, a mãe nutria uma
grande admiração por esta filha. A outra filha, a mais nova, era muito educada,
e, como em todos os contos os que são bons de coração também o são de
aparência, a rapariga tinha uma beleza única.
A mãe, sempre muito protectora da filha mais velha, atribuía
todas as tarefas da casa à filha mais nova. Ora uma das tarefas que a rapariga
tinha era a de ir buscar água todos os dias a uma fonte que ficava muito longe.
Num desses dias, apareceu junto da moça, uma idosa que lhe pediu água. Sem
demora a jovem deu de beber à velha senhora, auxiliando-a em tudo o que pode.
Então esta ergueu-se e disse-lhe:
- És tão gentil, que te vou conceder um dom. Concedo-te o
dom de lançares pela boca uma flor ou uma pedra preciosa sempre que proferires
uma palavra!
Afinal a velha senhora era uma fada.
A rapariga foi para casa e contou o sucedido à sua mãe, que
estava maravilhada, pois sempre que a sua filha falava surgiam flores e várias
pedras preciosas.
A mulher correu então a avisar a filha mais velha e
contou-lhe toda a história e qual o comportamento que esta deveria ter quando
lhe aparecesse uma velha a pedir água. Entre resmunguices e muito má
disposição, a rapariga decidiu fazer o que a mãe lhe mandou.
Quando chegou à fonte, não encontrou nenhuma velha, nem
idosa, nem pobre, nem doente, nem faminta, não encontrou ninguém! Então,
furiosa, sentou-se sem saber o que fazer pois certamente a sua mãe não iria
ficar satisfeita por ela não conseguir o mesmo dom que a sua irmã mais nova.
Enquanto pensava na melhor forma de sair daquela situação
ouviu passos que se aproximavam da fonte. Seria a velha? Pensou para com os
seus botões. Era bom que fosse, assim podia despachar o assunto e ir para casa
descansar. Quando se voltou viu uma linda mulher muito bem vestida. Não, não
era a velha, descobriu, e isso arreliou-a ainda mais! A mulher ao ver que a
jovem tinha um jarro, pediu-lhe um pouco de água, e esta respondeu-lhe de forma
muito malcriada:
- Pensas que estou aqui para te servir? Bebe da fonte se
quiseres!
- Não és muito educada, pois não? Perguntou – lhe a mulher.
E depois continuou:
- Pela tua falta de educação e humildade, vou amaldiçoar-te!
Sempre que falares sair-te-ão cobras e lagartos pela boca.
A rapariga, muito chateada e sem perceber que aquela senhora
era afinal a mesma fada que concedera o dom à sua irmã, foi para casa.
Finalmente podia ir descansar. Quando chegou a casa a mãe perguntou-lhe se
tinha encontrado a velha, ao que a rapariga lhe respondeu:
- Não minha mãe! Foi tudo invenção da minha irmã.
Mas enquanto falava saíam-lhe cobras e lagartos pela boca, e
então mãe e filha horrorizadas, culparam imediatamente a irmã mais nova.
A mais nova fugiu para a floresta, tendo sempre mãe e irmã
no seu encalço. Então, cansada e desesperada, pediu ajuda a um jovem cavaleiro
que por ali passava e que dando conta do seu grande desespero a levou com ele
para bem longe.
O cavaleiro era um príncipe que bem depressa se enamorou
dela e não passou muito tempo para que lhe pedisse a mão e os dois casassem.
Naquele tempo, quando os jovens se casavam, tinham de levar
um dote. O príncipe, claro está, já tinha o seu, que era um reino imenso. A
rapariga tinha doçura e educação, e também o dom das palavras, das palavras
preciosas!!
Quanto à sua irmã, acabou por refugiar-se num canto do
bosque, pois ninguém queria estar junto dela, nem mesmo a sua mãe.